quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

alio

desci as ruas estreitas da cidade dos homens de gesso. seguiram-me cinco anjos ladeados por doze cadáveres um para cada mês que virá. passaremos frio sobreviveremos à fome da sede faremos tempestade, disse-lhes. meus anjos dos olhos vazados e brandos. meus anjos paridores de abismos e chão. a bondade os fez cegos, já não azulam o céu. a tristeza os fez sábios, já não margeiam a esperança. porque frágeis quando sós, vestir-lhes-ei com a cor do silêncio. porque justos quando silentes, arrancar-lhes-ei os segredos e as asas. porque ímpios quando justos, deixá-los-ei respirar-me em desespero. meus anjos nascidos da demência e da ira. meus anjos das mãos enraizadas à primavera. deles fui desmundo. eles minha lucidez. às nossas costas fecharam-se todas as portas. pesados são os ferrolhos e trancas. não pertencemos mais às lamúrias desse lugar. escorraçados fomos pelos homens de gesso. lá fora o silêncio tem ouvidos de pássaro

[floresta a crescer na ossada da escuridão