domingo, 21 de junho de 2009


occludo

mas não é tudo silêncio? os dias. os desassossegos. a terra úmida que sepultará minha incompletude. mas não é tudo um ciclo? rio onde outrora éramos memória. primavera que deserta turva-nos o poente. paragem áspera desaninhando pardais
.............................[o húmus do qual fiz meus ossos e carne
..............................gesta um amanhã atado ao que não virá]

domingo, 10 de maio de 2009


metuo

por que estas árvores cantam o que não escuto? por que são caule e não mais raiz? onde estão os pirilampos e mariposas que se alimentavam de restos de sol? meus joelhos resguardam o sacrifício dos justos. minhas vértebras escoram a vergonha dos pios.
........................[a seiva da qual fiz o meu sangue
.........................hoje secreta a crueza de que morrerei só]

sábado, 2 de maio de 2009

pridem

caminharemos em direção à floresta, protegidos pela noite e pelo medo. ao romper da segunda aurora, aqueles homens de gesso e suas vozes e verdades de sal pertencerão a um passado estrangulado por cores. ao terceiro nascente alcançaremos memórias baldias, às suas margens deixando escárnio e maldizer. sacrificarei um anjo, dele roubarei o nome. à sua cova migrarão pardais. do seu corpo nascerão girassóis.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

alio

desci as ruas estreitas da cidade dos homens de gesso. seguiram-me cinco anjos ladeados por doze cadáveres um para cada mês que virá. passaremos frio sobreviveremos à fome da sede faremos tempestade, disse-lhes. meus anjos dos olhos vazados e brandos. meus anjos paridores de abismos e chão. a bondade os fez cegos, já não azulam o céu. a tristeza os fez sábios, já não margeiam a esperança. porque frágeis quando sós, vestir-lhes-ei com a cor do silêncio. porque justos quando silentes, arrancar-lhes-ei os segredos e as asas. porque ímpios quando justos, deixá-los-ei respirar-me em desespero. meus anjos nascidos da demência e da ira. meus anjos das mãos enraizadas à primavera. deles fui desmundo. eles minha lucidez. às nossas costas fecharam-se todas as portas. pesados são os ferrolhos e trancas. não pertencemos mais às lamúrias desse lugar. escorraçados fomos pelos homens de gesso. lá fora o silêncio tem ouvidos de pássaro

[floresta a crescer na ossada da escuridão

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008


tenebrae

teus são os murmúrios que alimentam os justos? tuas, as vestes que aquecem os clementes? por ti oram aqueles que há muito minha bondade acalentou os pesares? farsa és, mas só a ti escutam. no devido tempo saberei não os perdoar. porque se agora ajoelham-se aos teus pés, multidão sob o mesmo nome, quando só existia trevas, fui quem os acolheu e deu-lhes o que sonhar. mas desejavam fé e nas soleiras do desespero alcançaram teus olhos, tudo o que vêem. eu fiz da minha carne o verbo. fui saliva. fui carvão. e tu? renúncia e sacrifício. promessa e perdão. a mentira nascida de mim. o amanhã que hei de encerrar.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008






finitimus



fresta onde ninguém
se move
és presságio que descobre
vozes
amontoadas ao acaso
qual
aurora de anjos caídos

(
musgo

relva


)

mendacium

>
do que chamam vida
a inervação
onde toda claridade recua
sei
haverá homens
soterrados porque loucos
e em seus músculos e ossos
páginas em branco
< >
do que dizem morte
o desassossego
onde toda fé desmorona
sei
haverá anjos
esquecidos porque lúcidos
e em suas asas e pálpebras
nuvens de chuva