agminis
ao rubens da cunha
há muito caminho por essas paragens. tateei o abandono. fiz da ventura sopro e desatino. nomeei os filhos que não tive. ensinei-os a sonhar os sonhos que não soube. mas apunhalaram-me as costas, meus filhos. desejaram-me morto, ossos e pó. auscultaram-me o coração, buscando dos meus sentires o controle. quanta blasfêmia! como ousaram? ao entardecer chamei-os à morada dos justos, onde a loucura entrecruza as mãos e o céu parece oco, resignado pela imensidão azul. sê prudente, disse ao primeiro. ao segundo murmurei cirandas, restos de uma infância envelhecida que lhe carcome as pálpebras. fiz-me labirinto com as virtudes que vocês não conseguiram suportar, escutaram os demais. sou quem sonambula misérias alheias ao tempo. de migalhas faço meu pão. de assombros, a saliva e o verbo. tolos! pensaram vocês que eu ruiria porque atraiçoado? caída a noite o medo se alarga, infestando de leitos o despertar da felicidade. como sairão daqui? amedrontados feito cães, fugiram aos bandos. sei que acenderão velas ao que desconhecem. as súplicas que deixaram para trás, carregarei comigo até livrar-me do outono. há noite sobrevinda em mim. anjos selarão meu nome.
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