quarta-feira, 24 de dezembro de 2008


mutus


sei do abandono a quietude. meus sonhos vêm de lá. a demência que me anima é atroz. despedaça a esperança. emaranha o horizonte. e escapa. escorraçado fui dessa cidade de mil nomes ao cair da oitava noite, enquanto o outono lentamente jazia trancado em sombras. reunidos, aqueles homens eram coisa, amontoado de corpos volumosos e sujos a voltarem ódio contra mim. abjetos, por que esconderam o rosto quando passei? por que sussurraram às minhas costas? por que oraram em desespero àquele deus benevolente, risível farsa por eles inventada? por que roubaram meu excesso, ataram meu grito, serviram-se do meu saber, reviraram minhas memórias? achavam que assim mudariam o que lhes escrevi como destino? digo-vos então, homens acobertados pela fé, existirem verdades que chegam pouco antes de o arrebol, trazendo em si as vicissitudes da noite. espirais, alimentam a penúria dos injustos, esvaziando de estrelas o céu. opacas, desconhecem o orvalho e daninham o vindouro. quando mortas, descerram temores. pertencem a lugar nenhum. vide, a solidão peregrina alcançou o luar. eis que se completa a noite. sob o canto da rasga-mortalha, violado pelo jugo ferrenho do olhar de cada um de vós, em desatino sentencio: aqueles que hoje me tripudiaram, amanhã decerto temerão.

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